Atualmente no meio midiático, concorrem com as notas sobre o coronavírus as notícias sobre o desmatamento da Amazônia. Em que pese este ser um tema permanentemente em evidência, recentemente o Brasil vem sofrendo pressão nacional e internacional para a tomada de providências, sob pena de fuga dos investidores estrangeiros.
Atribui-se ao agronegócio, quase exclusivamente, a responsabilidade pela devastação das áreas amazônicas. Assim, convém trazer à reflexão se, de fato, o agronegócio brasileiro necessita das terras da Amazônia para se expandir e seguir com o seu exponencial crescimento.
Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, publicada em 05/07, a Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que a exploração da Amazônia é totalmente dispensável para o crescimento do agronegócio, inclusive, mostrou-se combativa ao que vem ocorrendo, defendendo a relevância do desenvolvimento sustentável.
Com efeito, inobstante as vicissitudes causadas pela atual pandemia, o agronegócio não foi atingido, considerando que o risco de desabastecimento sensibilizou a população para a importância de manter o país bem provido, o que, conforme análise da Ministra, eleva muito o nível de segurança nacional, pois somos autossuficientes em quase tudo.
E, para que este cenário se mantenha, não é necessário o acesso do agronegócio na Amazônia, inclusive porque a dificultosa logística para a retirada da produção, definitivamente, não é um atrativo. Ademais, a tecnologia que temos à disposição no agro se compatibiliza muito mais com o cerrado e com as regiões sul e sudeste, elevando custos e transtornos, o que tampouco é chamativo.
No entanto, interesses políticos, por vezes, mascaram-se detrás de imposições e opressões, e o fato é que o agronegócio brasileiro vem ganhando uma força competitiva sendo referência mundial, especialmente após a assinatura do acordo pactuado entre o Mercosul e a União Europeia em 2019, no qual o agronegócio foi um dos principais beneficiados, especialmente em razão das reduções de tarifas de exportação.
Dessa forma, é evidente que a concorrência importuna o mercado europeu e os EUA. Nos primeiros meses deste ano, as exportações do agro atingiram US$ 42 bilhões, um crescimento de 7,9% em relação ao mesmo período em 2019 – frisa-se: isso tudo com a mínima influência da região amazônica.
Outrossim, acerca da devastação da Amazônia, é notório que o governo tem mostrado esforço para a correção do problema com a criação de meios para maior efetividade da fiscalização de eventuais ilegalidades, inclusive com meios coercitivos mais gravosos, a exemplo do plano de regularização fundiária.
Ademais, o vice- presidente Hamilton Mourão, no mês de junho do corrente ano, reconheceu que o desmatamento da Amazônia ultrapassou o limite aceitável, bem como o Ministro do Meio Ambiente se dispôs a estabelecer diálogo com as empresas brasileiras e com investidores estrangeiros a fim de buscar soluções conjuntas para o problema. Por sua vez, o Presidente da República publicou o Decreto nº 10.424, que proíbe queimadas por 120 dias. Ou seja, ninguém está alheio ao que vem ocorrendo.
De outro lado, o Brasil é referência mundial no agronegócio e as últimas tratativas e inovações deixaram os demais países, que antes se mantinham confortáveis nesse sentido, preocupados com a nocividade comercial que a agricultura brasileira vem causando.
Dessa forma, despidos de emoções e radicalismos, é importante refletirmos acerca dos rumores da mídia acerca da suposta contenda entre a Amazônia e o agronegócio.
Para tanto, é imprescindível que se contextualize o cenário internacional e as providências concretizadas pelo governo, a fim de evitar a formação de opinião sob apenas uma ótica, bem como a propagação das combatidas fake news.
O fato é que o agronegócio não precisa da Amazônia. É plenamente possível conciliar a preservação da floresta com a continuidade de crescimento do agro brasileiro. E, para tanto, em forma de apoio, devemos construir uma nova percepção de desenvolvimento econômico-sustentável.
Isabela Bergamasco